Durante o intervalo

Depois de quatro anos

sem assistir TV,

me deparo com a novela:

mesma trama,

mesmos atores,

mesmo formato,

mesmas mesmices,

mesmo.

No intervalo,

propagandas se utilizam

do corpo e dos desejos:

“seja uma deusa”,

“fique linda”,

“o que todo homem deseja ser”.

É o velhinho pegando a velhinha,

praia,

água fresca.

A propaganda não vende produto,

ela vende apenas

o desejo do subconsciente

daqueles que não acharam

sua própria maneira

de viver a vida.

A propaganda é uma mistura

de arte com safadeza:

coloca jalecos brancos

em atores baratos,

maquila os fatos

para suavizar

as linhas de expressões

entre a mentira e o exagero.

Contradizem a realidade:

mostram um mundo de fantasias

onde toda família se junta feliz

para tomar café da manhã;

onde toda mulher se orgulha

de ter limpado a casa.

Enquanto isso, na vida real,

por outro lado,

acordam mal-humorados,

atrasados, sem tempo

para tomar um café;

os filhos se enrolam

para levantar de suas camas,

pois foram dormir tarde;

a mulher pagou uma empregada

para limpar a casa,

pois acha

que deveria aproveitar

melhor seu tempo.

Televisão é uma abstração

do mundo real, e por isso…

… Olha!

Terminaram os comerciais

silêncio,

porque a novela começou novamente.