Contos
O pedinte
— Não sou bicho. Eu sou uma pessoa direita, séria. Aquela senhora, por quem passei na frente do Pet Shop, me disse que valho menos que o cãozinho dela. Isso não é verdade. Disse que sou bicho. Isso também não é verdade, de forma alguma. Sou um ser humano, por favor, tente entender, não sou bicho. Quando a parei na rua para explicar-lhe tudo, me olhava atravessado, como se eu fosse culpado antes mesmo de cometer um crime.
Júlio, o apegado ao ônibus
Júlio está sentado na mesa do computador, olhando seus emails. Ele costuma fazer isso vez ou outra, porque sempre há alguma coisa interessante para se comprar ou algum convite para festa que recebe por lá.
Ah! Vocês precisam conhecer este garoto. Ele é uma dessas pessoas que só de olhar na rua faz você querer ser amigo dele. Da mesma forma como o cheiro de um perfume pode fazer você se interessar por uma pessoa, o jeito de agir e se vestir de Júlio fazem você querer ser seu amigo.
Júlia, a futura cineasta
Já estava no seu segundo ano, quando andava de ônibus aquele dia. O tempo passara muito rápido, só mais alguns poucos anos e estaria formada. Sempre simpatizou com a idéia de ganhar muito dinheiro só para esfregar na cara de todo mundo que foi — e muitos ainda são- contra, mas não valeria a pena, não. Aquela profissão era um sonho pessoal, não era uma vingança.
Julia era uma garota adorável!
Geovani, o azarado otimista
Geovani está indo para a lotérica, arriscar a sorte mais uma vez. Ele joga desde os dezoito anos de idade, rigorosamente, todo mês na mega-sena. Chegou a ganhar uma vez, mas seu bilhete fora sido lavado no bolso da bermuda. O pior, a bermuda nem precisava ser lavada, colocou sem querer no cesto de roupa suja, por descuido mesmo.
Depois de perceber o problema, realmente teve que concordar consigo mesmo, era novo demais para ter tanto dinheiro, provavelmente iria se perder na vida.
Alfreado na livraria
Chovia lá fora e Alfredo acabou preso dentro da galeria. Chovia aquela chuva grossa, de pingos pesados, do jeito que dá gosto de apreciar. Para passar o tempo, pois, hoje, ele foi à livraria. Não que fosse um costume, mas era algo que queria fazer com mais frequência.
Nunca conseguiu tirar da cabeça que era mal compreendido ao dizer que gostava de livrarias. Todos sempre pensavam que era para parecer mais intelectual e conhecedor, mas não pelo fato dele gostar de livros.
Alceu, o filho do que ri sozinho
Aquele ali descendo a rua se chama Alceu. Sua mãe havia morrido logo após o parto, o que fez com que fosse para a cucuia o que restava do bom senso do pai.
Mas Alceu sempre fora lúcido e muito racional; não deixava que as loucuras do pai o afetasse no seu dia a dia. Cresceu e se desenvolveu até mais que os amigos do colégio, cujos pais tinham dó por Alceu “não ter uma família de verdade.