Conselhos de um velho

Recém nascido,

sem responsabilidades,

o mundo é de todos.

Faço o que quiser:

choro inconvenientemente,

jogo a bola

e ela rola

igual ao tempo.

Necessário estudar

  • responsabilidades -,

fazer o dever de casa,

marcar a resposta certa

para se formar

  • não importando se aprendi,

se queria aprender -,

marcar a resposta certa

é tudo que preciso.

E as danças,

os esportes,

a turma do colégio:

sente-se falta mais tarde.

O ser humano não entende:

voltar a ser como era,

nunca mais.

“Não se é mais tão feliz”.

Mentira!

Foram as escolhas,

apenas

escolhas.

Responsabilidade

só se agrega

ao longo da vida.

Reclamar seria

reduzir o fardo

do amadurecimento

que ela trás.

É a beleza do envelhecer.

É ver que hoje não é mais

engraçado o que já fora;

ver que não aguenta mais

passar noites sem dormir;

é ter referência na escolha;

aprendido que aprender

não se aprende,

é apenas tentar e fazer.

Envelhecer é olhar para trás,

rir de tudo e contar a todos!

Deixar interessante como história

contada para criança na véspera do sono.

Ver que seu corpo muda,

sua mente muda,

seus hábitos e gostos mudam.

Comia mel, não como mais,

mas nem por isso

a vida se tornou menos doce.

Das lágrimas salgadas,

tristeza ou alegria.

A amargura é superada

através do tempo e de amigos.

Já o azedo

jaz nos outros:

assim que tem que ser.

Pois melhor mesmo

é rir a todo o instante:

de tudo,

de todos.

Lembre-se, amigo,

o agora vira antes,

mesmo que isso ocorra

só depois.

Rir da mulher irritada

que passa na rua:

ela merece.

Brabeza passa,

deve passar,

caso contrário,

não é possível focar em mais nada.

Ela domina.

Rir do homem que

passa apressado e reclama

que andam devagar.

Amigo, qual a pressa?

Não ande rápido demais

a ponto de não enxergar

a vida passar diante

de seus olhos abertos.

O pássaro que paira lá em cima,

a árvore que farfalha a sua frente:

“olha, como é frondosa, não é?”,

“as folhas, que diferentes!”

Experimentar o sabor

mesmo que a comida

não pareça apetitosa:

mais fácil falar, tudo bem,

pelo menos considere.

Viva pelas suas regras,

não trabalhe para ninguém,

trabalhe para si,

mesmo que seja

na empresa de alguém.

Você trabalha para você viver:

é como um pedágio obrigatório

nessa freeway que é sobreviver.

O tempo passa,

seus amigos ficam mais velhos,

seus filhos, quem sabe netos,

são tudo experiências novas.

Não há sentido em dizer

“como era bom antigamente”,

“que tempo bom”,

não se engane

com os “eternos jovens”,

isso é para os saudosistas,

de quem faz birra,

velho mal acostumado,

prefere reclamar.

O mundo muda,

você muda,

o tempo passa,

você envelhece.

Temos cinco sentidos,

podemos guardar na lembrança:

o toque materno no rosto,

capaz de sentir a febre;

o gosto daquela comida gostosa,

que sua avó fazia;

a imagem de quem amamos,

sorrindo ao nos ver;

o barulho das turbinas do avião,

sinalizando que, em breve,

chegará em casa;

o cheiro de grama molhada

da casa de campo,

onde ia passar as férias.

Lembrar-se é bom.

É sua responsabilidade,

entretanto, envelhecer.

Envelhecer

é experimentar,

é sentir sensações,

é colecionar lembranças.

Envelhecer

é compreender o mundo passado

e concluir os porquês do mundo do momento.

Aproveitar sua vida

é envelhecer conscientemente.

Deixem que me chamem de velho,

vou até rir,

pois eu gosto de rir de tudo.

Rirei porque eu aproveitei a vida

e o tempo passou.

Quando eles chegarem na minha idade,

será que rirão?