Eles me perguntam

Eles me perguntam

de onde eu vim e para onde vou,

o que quero,

em quê eu creio.

Eles me perguntam

sobre o amor,

sobre o fim que me espera,

sobre o significado da vida,

sobre o que realmente importa.

Dúvidas tão sem sentido

quanto a vida.

Desisto,

pois não entendo de nada:

nem dos seres humanos

que me cercam,

nem da mente humana,

do corpo humano,

do caráter e da loucura.

Não entendo

o comportamento humano

nem o animal.

Teria que me formar

biólogo, médico, filósofo,

arqueólogo, psicanalista;

ter sido embaixador

e astrônomo;

me aprofundar

nas artes cênicas, visuais

e marciais;

participar de umbanda,

satanismo, cultos evangélicos,

fazer Yoga,

meditar com os budistas,

cantar mantras:

Hare Krishna, Radhe Shyam;

sentir a energia de Sai Baba,

ficar a vida toda

com o braço levantado;

seguir a risca um livro,

ser circuncidado,

não comer porco

ou galinha que não tenha sido

morta

virada para a Meca;

teria de fazer alpinismo,

explorar a natureza,

morar longe da civilização,

no alto de uma montanha;

usar drogas;

Santo Daime;

remédios.

Teria que viver mais de uma vida.

Eu só tenho uma vida,

uma única vida,

a minha vida.

Não sei de onde ela veio.

Não sei para onde ela vai.

Não faço a menor ideia de onde estou

  • um Planeta? um Universo? minha cidade? -,

nem para onde vou.

Não sei explicar o amor,

nem sei se durará para sempre.

Não sei o que fazer,

por isso faço o que dá vontade.

Eu troquei as dúvidas

pela observação do meio.

Por isso eu não as respondo,

por isso,

eu só quero papo.