Tribunal da selva

Julgar é

falar em certo e errado:

não existe tal coisa

nem nunca existiu.

O bem e o mau

estão aí para por ordem,

para impor respeito,

para que a anarquia e caos

não reinem na sociedade,

para que prevaleça

a lei do tribunal

e, não, a lei da selva.

Por que eu,

mais um animal nesse mundo

que, por ser um animal,

não posso me comportar como tal?

“Sou civilizado” -

grande asneira!

Ah!

Deixamos de ser animais

há muito!

Somos monstros:

vítimas de experiências maquiavélicas

praticadas no laboratório

da Doutora Moral.

Um leão mata a presa,

dilacera a carne e a come

crua.

Natural.

Na-tu-ra-líssimo!

Nunca vi um leão sendo culpado

sentando como réu em uma corte

pelo crime de matar…

a fome!

Não me venham falar de crueldade;

não me venham falar de pena, dó;

um leão faz aquilo que precisa para sobreviver.

Instintos.

Não temos mais!

Racionalizamos o instinto:

é como uma fábrica,

uma linha de montagem:

o instinto vem

como matéria prima;

são necessários vários passos.

A cada passo, é como um funil,

filtrando,

é necessário racionalizar,

pensar!

Eles querem que joguemos fora,

que descartemos antes do fim,

pois,

se o instinto passar por todas as etapas,

ele se torna ato,

ação.

Hoje,

temos só a moral:

valores que, quando externalizados,

nos fazem sentir melhores

do que os outros.

Inclusive,

melhores que o próprio leão.