Destaques das minhas leituras de 2021
Publicado em 30/12/2021 por Gustavo Dutra
Ao longo deste ano, li 28 livros, segundo meu Skoob. Salvo um ou outro lançado em 2021, a lista não contém nenhuma novidade. Isso me deixou receoso. Publicar um artigo com “os melhores” seria muita pretensão da minha parte.
Precisei encontrar uma outra forma de compartilhar minhas leituras, e julguei que o termo “destaque” coubesse melhor. Também quis evitar a seleção de um melhor dentre os vários. Afinal, costumo ler de tudo, e isso dificulta uma classificação geral. Organizei, então, os destaques em algumas categorias.
Eis o resultado:
Destaque para livro de Ficção
Apesar do Prêmio Jabuti separar Romance de entretenimento e do romance Literário, não vou os distinguir aqui.
Começo falando de Duna, que é o livro mais mal escrito e que mais gostei na vida. O artifício de expor os pensamentos dos personagens, que, por exemplo, o George R. R. Martin usa poucas vezes, mas muito bem, é utilizado por Frank Herbert em exagero. Fosse só o exagero, tudo bem, porém o uso sistemático explica o que a cena acabou de demonstrar, deixando o leitor com cara de tonto.
Nesse aspecto, achei a escrita muito amadora. A trama, entretanto, é muito boa, mas acelerar demais no final. Digamos que, se o livro fosse uma escola de samba desfilando no carnaval, eu daria um 7 para Evolução, mas 10 para Enredo.
Salvo alguns pequenos desconfortos, este ano tirei a sorte grande. Li O Cortiço e adorei, apesar de ter achado extenso. Poderia haver alguns cortes ao meu ver. Também li Lolita e As aventuras do bom soldado Švejk, ambos somando mais de mil páginas, porém contados por narradores tão gostosos de se ler, que não me senti cansado e queria sempre mais.
O maior destaque vai para Lolita, cujo estilo me deixou meio bobo e cuja prosa me lembrou Moll Flanders. Mas também deixo registrado que As aventuras do bom soldado Švejk me fez rir tanto quanto O homem que matou Getúlio Vargas e O guia do mochileiro das galáxias.
P.S: também li Jubiabá, do Jorge Amado. Foi escrito antes Capitães da Areia e poderíamos dizer que é uma spin-off desse livro. Como se passasse no mesmo universo, com temas similares. Entre os dois, preferi Capitães da Areia. Mas se sobrar um tempinho, também leia Jubiabá.
Destaque para livros de Não-ficção
Comecei o ano lendo A classe média no Espelho, do Jessé Souza. Achei que poderia me ajudar em um livro de ficção que venho (re)escrevendo há um tempo. A leitura foi muito importante para entender melhor a Classe Média brasileira. Finalmente consegui criar ânimo para ler 24/7 — Capitalismo tardio e o fim do sono. A leitura não é tão fluida, mas tirei ótimos insights.
Entretanto, meus destaques foram para dois livros sobre budismo: Além do Materialismo Espiritual e Louca Sabedoria, ambos escritos por Chögyam Trungpa . Eles me reconectaram com o budismo e me motivaram a avançar na prática.
Destaque para noveletas e contos
Criei essa categoria para citar: O nariz, de Gógol; Na colônia penal, do Kafka; e Bartleby, o escrivão, do Herman Melville. Destes, o que mais gostei foi Na colônia penal.
Escrevendo o artigo percebi que há um paralelo nos personagens dos três livros. De alguma forma, os protagonistas são meio idiotas e passivos, ou ignoram o “código de conduta social” de alguma maneira.
O efeito causado por essa estratégia é muito interessante: nos questionamos o tempo todo se nossas ações são naturais ou se apenas respondemos de acordo com que o mundo espera de nós. Essa sensação percorre também as quase 700 páginas de As aventuras do bom soldado Švejk, que citei no destaque de Ficção.
Destaque para Poesia
Comprei mais livros de poesia do que li este ano. Mas ano que vem eu recupero ;)
Meu destaque, sem sombra de dúvidas, vai para Matutu Do, da Silvia Rocha . Escrito em haicais que revelam a beleza e o relevo do Vale do Matutu, no sul de Minas Gerais, esse livro foi um achado.
A autora tem outros livros publicados, e alguns estão disponíveis de forma gratuita no site da Editora É selo de língua. Você não se arrependerá.
Também me diverti com Adília Lopes, que ainda não conhecia. Li os 3 livros sorteados na Newsletter do Curto Poema ano passado: o olho, do Jean Carlo Barusso; Há nove luas em mim, da Nina Maria, e o menor amor do mundo, do Rafael Zacca. Ano que vem, quero publicar resenhas individuais, por isso não vou me estender neles agora.
Também li O livro de haicais do Jack Kerouac. Achei sobrecarregado — com muito haicai —, apesar de ter sido parte da proposta do livro. Também discordei de algumas traduções — a edição é bilíngue — e não gostei do resultado de alguns versos.
Destaque para livros infantis
Tenho pegado gosto por ler livros infantis. Esse ano, li o Floresta, do Mauricio Vieira e Jonathas Martins, que fez certo burburinho. Depois de ouvir a entrevista dos dois autores no Podcast Rabisco, me instiguei a ler: foi mais poético do que imaginava.
Meus destaques vão para dois livros de uma editora bem nova: a Cai-Cai. Ela lançou dois livros bilíngues (português-chinês): Me empresta sua calda? e Quem comeu a minha castanha?.
Se fosse eleger um deles, com certeza ficaria com o primeiro. Me empresta sua calda?, na minha interpretação, fala sobre como devemos procurar a resposta em nós mesmos, e que o que funciona para os outros quase nunca funciona para nós. De certa forma, deixa claro que estamos sozinhos no mundo.