Fui finalista do Prêmio Off Flip 2020, categoria Livro Infantojuvenil
Publicado em 24/03/2020 por Gustavo Dutra
Como nossa cultura não possui nenhum ritual formal de passagem, não delimitamos bem em que fase da vida estamos. Sei que sou adulto, mas ainda me sinto uma criança em vários aspectos. Talvez por isso nunca havia me passado pela cabeça escrever um livro para elas, não me sentia maduro o suficiente.
Acontece que, há uns 7 anos atrás, comecei a trabalhar em uma empresa onde fiz muitas amizades. Entre elas, a que mais se espraiou foi a com Erich. Como uma visita impertinente, fui entrando e me instaurando, de maneira que estabeleci uma amizade forte com toda família.
O filho mais velho, Gabriel, que tinha por volta de seus 7 ou 8 anos, frequentava as pequenas comemorações da firma (aniversários, festas juninas, fechamento de trimestre, etc). Para nos entreter, eu e ele, no meio de tantos adultos falando de trabalho, contávamos histórias.
Não lembro se a ideia partiu dele ou de mim. Se não me engano foi dele, pois era muito rigoroso com a regra: eu contaria uma história e, logo em seguida, ele me contaria uma outra. Extrapolei meu repertório criando tramas interessantes, de aventuras, com guerreiros, com magos, dragões e reinos. Recorria aos fragmentos de memória dos enredos de desenhos, animes, filmes e tudo que li quando menor. Minhas histórias duravam vinte, trinta minutos, me esforçava para encenar, fazendo caras e bocas, dando vozes diferentes para cada personagem. Na sua vez, ele também usava as suas referências. Misturava Batman, Superman, Pokemon e mais um monte de coisa que eu não conhecia. Muitas vezes, para ganhar tempo, pedia para que me explicasse a história de algum personagem, pois seu turno não passava de cinco minutos, tempo insuficiente para eu elaborar uma nova história.
Amanda me comentava apavorada que Gabriel, que só parava quieto com um tablet ou celular na mão, me olhava quietinho, em silêncio, enquanto ouvia minhas histórias. Um dia, despretensiosamente, me disse: “você devia escrever para crianças”.
Essa frase me voltou à cabeça ano passado, quando me deparei com alguns haicais que desenrolei de umas contemplações por aí. Os versinhos me lembram o humor da minha avó, que contava piadinhas durante os verões, que passávamos na praia.
Quando fui inscrever um conto e um poema no Prêmio Off Flip 2020, me deparei com a categoria Livro Infantojuvenil. Neste momento, lembrei dos haicais que me remetiam a minha infância. A recomendação da Amanda surgiu novamente, de modo que bolei o livro naquelas poucas semanas até o fim do prazo de submissão.
O livro se chama Psiu, o passarinho que fugiu e foi inspirado em uma música , do Jackson do Pandeiro . Conta a história de Psiu, uma passarinho que, por descuido do dono, foge de sua gaiola. Ao se deparar com outros animais, canta seus espantos em forma de versinhos, como por exemplo:
— Só pode ter sido engano! disse o peixe no papo do pelicano
foi sobre-humano assistir o pôr-do-sol no bico do tucano
como é ágil o sagui! faz manobras nos galhos que no ar não consegui
Ao se inscrever, é necessário escolher um pseudônimo, a fim de que os jurados não enviesem suas avaliações. O apelido escolhido por mim foi Gomes Filho. Gomes, sobrenome de Amanda; Filho, deu para entender, né? ;)
No dia 20 de Março, o Prêmio divulgou os vencedores. Curiosamente, nem o poema e nem o conto, que publicarei aqui em breve, ganharam ou se classificaram entre os finalistas; mas o livro infantil, sim. Foi finalista da sua categoria.
É um projeto pela qual tenho carinho e que, certamente, tocarei adiante, apesar de não ser minha prioridade no momento. Quem sabe, em breve, encontro uma editora interessada?