Jabuti 2018 e a descentralização das boas publicações Reflexões sobre o vencedor do Prêmio Jabuti de melhor livro
Publicado em 25/11/2018 por Gustavo Dutra
À cidade, de Mailson Furtado, foi eleito o melhor livro do ano, recebendo o Prêmio Jabuti 2018. O livro é de poesias e publicado de maneiro totalmente independente. Portanto, a parabenização pelo prêmio é dobrada.
Dos dez indicados na categoria Poesia, as editoras Companhia das Letras e Editora 34, com certeza, eram as mais conhecidas. A editora Patuá, pequena e independente, apesar de conhecida, ainda não é tão reconhecida quanto as outras duas citadas. A editora 7Letras, até então desconhecida para mim, teve três livros de seu catálogo entre os finalistas.
Isso demonstra que há uma descentralização da publicação de boas obras, que costumavam ser publicadas apenas por grandes editoras, dando espaço para novos escritores e poetas.
Essa descentralização não vem ocorrendo apenas no setor literário. Um exemplo marcante no jornalismo é o The Intercept, que cobriu muito bem as eleições de 2018 aqui no Brasil.
A propaganda está cada vez mais aumentando o investimento com Digital Influencers, que têm uma audiência melhor, porém muito mais nichada, ou seja, possui mais retorno (custando menos).
Recentemente, na Itália, foi aprovada uma lei que proíbe que obras cinematográficas fiquem disponíveis em plataformas de stream como a Netflix.
O crowdfunding também está crescendo, de forma que trilogias inteiras já se utilizaram de financiamento coletivo para serem impressos. Inclusive, impulsionadas por editoras já consolidadas.
Fica claro que a Era da Informação está permitindo essa descentralização e independência de grandes instituições para criação de conteúdo e artística. Porém, no meio de tanta coisa acontecendo, como saber o que é bom?
Creio que estamos em transição para a Era da Curadoria, onde pessoas que se destacam através da Internet, selecionam e criticam serviços, produtos e arte. A aproximação dos Influencers com o público permite essa curadoria, ainda que de forma mercantilista.
Do ponto de vista do autor, não se discute mais “E-book vs Livro físico”, mas, sim, sua capacidade de construir seus próprios leitores e se utilizar da Internet para a promoção do seu livro.
O troféu do Prêmio Jabuti 2018 ter ido para uma obra publicada de forma independente, significa, de certa forma, uma consolidação dessa descentralização.
Esperamos ler o livro em breve! Parabéns ao autor mais uma vez!