Desaprender a ser adulto A escola, da primeira à oitava — ou, agora, a nona série —, talvez seja um dos maiores fatores que ceifam o juízo sobre a poesia de nós.
Publicado em 24/07/2017 por Gustavo Dutra
Antes de começar, vale a pena mencionar que não estou aqui para demonizar a escola. Ela é exatamente o que o sistema precisa.
Há, entretanto, algumas soluções alternativas à escola como conhecemos hoje, como podemos ver, por exemplo, no documentário Quando sinto que já sei. Rubem Alves , que também foi poeta, fala sobre isso no Provocações pro Abujamra .
Mas eu queria manter o foco do conteúdo no cenário que nós nos encaixamos, em quem frequentou a escola tradicional, que envolve passar de ano.
Para passar de ano, eu precisava dar as respostas certas nas provas. Meu objetivo, estipulado pela própria escola, era passar na faculdade. Os professores apavoravam-me com essa ideia. Precisava passar na faculdade.
Como tudo que se fazia era para atingir este objetivo, todo o resto era distração.
Ao longo desse processo, uma criança questionadora e criativa acaba sendo transformada em uma mente racional e conformada com um utilitarismo. Uma mente racional no sentido matemático, porém com pouco poder de internalização e crítica; utilitarista, porque só pensava em ganhos tangíveis para a sociedade ou para a economia.
Mas a coisa mais triste é ser drenado de arte. Acabamos nos fixando ao correto e ao convencional. Depois disso tudo, árvores serão sempre verdes; pedras, imóveis; rios, molhados. O Sol sempre irá brilhar no dia e a Lua na noite. As coisas serão sempre o que se diz das coisas. Ficam-se as frutas, vão-se os sucos.
Este é a primeira parede que precisa ser marretada. O poeta não precisa voltar a ser criança, mas precisa desaprender a ser adulto. Precisa se deseducar e voltar ao estágio inicial de indagação. Somente a curiosidade, a dúvida e a descrença nos padrões é que permitirão ao poeta evoluir.
É preciso parar de ler as linhas e começar a ler as entrelinhas. Mais sobre isso nos próximos vídeos.