O que te faz escrever poesia? E se maximizássemos as circunstâncias que nos fazem escrever?
Publicado em 23/05/2017 por Gustavo Dutra
Nos últimos dois vídeos, falei sobre contemplar para escrever e sobre ansiedade de publicar um poema. Eu queria agora falar um pouco mais sobre contemplar para escrever.
Escrevia muito pouca poesia antigamente, porque eu só escrevia quando vinha aquela vontade, aquele estado de transe, a famosa inspiração. Tentei parar para escrever para ver se era só questão de hábito, sem sentir o “espanto” — como diz Ferreira Gullar — que gera a poesia. Falhei miseravelmente. Aquilo não gerava poesia.
Mas como eu poderia fazer para escrever mais? Bom, a ideia que tive foi de tentar perceber quais situações me faziam ter este espanto e escrever. Pois se eu conseguisse saber as circunstâncias em que o espanto surgia, poderia tentar criar o clima para que isso acontecesse.
Da lista que fiz eis as circunstâncias que sei que não consigo escrever:
- sob pressão ou forçando a escrita
- sentando todas as quartas-feiras das 19h às 22h à frente do computador, por exemplo.
- quando pego um tema específico
- dia da mulher, algum familiar, amigo, sobre as manifestações e a repreensão da PM, dia do índio, etc.
- quando estou estressado ou preocupado
- próximo de datas de provas, com algum problema familiar ou cheio de prazos que parecem não se cumprir, por exemplo.
- quando estou muito atarefado
- é um pouco diferente do estresse, aqui é mais o lance de pouco tempo ocioso. Muitos trabalhos da faculdade, muitas tarefas urgentes, coisas da casa (lavar roupa, limpar, etc), por exemplo.
- quando estou cansado física ou mentalmente
- semanas com muito exercício físico, dias após chegada de uma viagem, depois de uma temporada estressado.
Já algumas das circunstâncias que são muito prováveis que eu escreva (foco ao provável):
- criando conexão ao ouvir música
- geralmente música brasileira com uma letra reflexiva. Seja em casa ou seja em shows. Houve shows que me fizeram escrever 4 ou 5 poemas já. Houve shows que não me deram nem cócegas.
- lendo livros que tragam fortes reflexões
- geralmente ensaios, mas um bom conto ou novela também estimulam. Alguns exemplos: A invenção da cultura (Roy Wagner), Metafísicas Canibais (Eduardo Viveiros de Castro), O Sonho de um Homem Ridículo (Dostoiévski), O estrangeiro (Albert Camus).
- visitar galerias de arte
- a minha empatia com esculturas, quadros e fotografias é mais difícil. Mas já escrevi depois de ver exposições.
- ócio mental
- não necessariamente ócio físico. Me dá vontade de escrever ao ficar deitado na cama sem fazer nada, cozinhando, lavando a roupa, mas em especial, caminhando sem rumo pela rua. Já parei muito no meio da rua apenas para escrever algumas frases que geraram um bom poema depois. Em menor grau, meditação e exercício físico também ajudam.
Bom, é provável que outros poetas não se beneficiem desta lista. Essa busca, como já falei em outros vídeos, é individual e interminável. Também está sujeita a mudanças periódicas.
Mas, se não souberem de onde partir, aqui fica a dica de tentar encontrar seus momentos de criação. Mapeados estes momentos, podemos nos esforçar para criá-los no nosso dia a dia e, assim, escrever mais. Se sentir-se bem em fazer isso, comenta aí o que te faz escrever ;).