Poesia é condensação Ezra Pound dizia que poesia vem da linguagem em alta condensação
Publicado em 31/07/2017 por Gustavo Dutra
No último vídeo, nós falamos sobre começar a não ler mais a linhas, mas as entrelinhas. No sentido de descontruir o que entendemos ser um adulto, partindo do ponto que os adultos são racionais e utilitaristas. O Manuel de Barros já nos explica:
Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto.— Manoel de Barros
O que acontecia quando eu comecei a escrever poesia, é que, por estar acostumado com o “mundo adulto”, escrevia como se estivesse escrevendo um outro texto para outros lerem. Eu usava muitas conjunções: entretanto, portanto, logo, e assim, tal qual… Isso demonstra o quão explicativa estava minha poesia. Se ela explica demais, não é mais poesia, passa a ser um péssimo ensaio.
Eu tentava explicar demais e provocar de menos. Eu queria mostrar as linhas e não as entrelinhas. Para deixar mais claro, trouxe um trecho de um poema que eu escrevi há um bom tempo.
Envelhecer é sentir o tempo mais devagar, prolongar os prazeres que parecem mais intensos e tirar o máximo sabor até a última gota.— Gustavo Dutra
Esse poema explica demais. Porém, como diz o Ezra Pound no livro ABC da Literatura , poesia é condensação. É dizer mais com menos. Isso provoca o poder da poesia, provoca o sintoma da poesia naquele que a consome. Segundo o poeta, “poesia é a linguagem em alta condensação, hiperconcentrada, polissêmica, em busca de ser inegostável”.
Portanto, fiz um exercício de condensação na poesia acima. Em três linhas, sumarizo os seis acima.
Os últimos goles de vida que concentram o tempo e prazer, são mais intensos.
Portanto, estar atento ao uso das conjunções pode ajudar a identificar pontos que podem ser condensados ainda mais. Esse é um ótimo exercício para nós, poetas, para estarmos em constante melhoria do nosso fazer poético. Esse é um dos exemplos do que eu quis dizer nos vídeos anteriores, ou seja, essa é uma das etapas que passamos para deixarmos de ser adultos.