Rimas e Ritmo na poesia Poesia precisa rimar? Este artifício foi usado muito antigamente.
Publicado em 08/02/2018 por Gustavo Dutra
A rima tem sido utilizada nos poemas pelo menos desde o período clássico. Naquela época, era uma retrição: ou havia rima, ou não era considerado poesia. Com o tempo, esta ideia foi mudando e hoje temos poesia em versos brancos, sem rima.
Independentemente de ter rima ou não, os poemas, em maioria, possuem ritmo. Isso me leva a crer que não seja obrigatória, mas uma ferramenta para gerar ritmo.
Vamos usar um exemplo: quando não possui rima, o soneto perde um pouco a beleza de sê-lo; quando, entretanto, utiliza rima, não é ela, sozinha, que dá a sensação de poesia, mas a cadência do todo.
Não é fácil encontrar sonetos que não rimem por aí. O livro chamado Debaixo das rodas de um automóvel , escrito pelo poeta e músico Rogério Skylab , é um bom exemplo. Os poemas são muito bons, porém não apresentam a beleza “esperada” por um soneto. Neste caso, o soneto é apenas a forma em que os poemas estão apresentados.
Tanto forma, quanto métrica, quanto rima - entre outros -, podem ser usados separadamente; são ferramentas que o poeta tem.
Um exemplo concreto pode ser visto usando um poema de Leminski :
De cima das pedras alguém parou para ver o mar, mas o mar não parou para ser olhado era mar para tudo que era lado.— Paulo Leminski
Se as rimas fossem removidas, como no exemplo abaixo, há uma perda grande na poesia:
De cima das pedras alguém parou para ver o mar, mas o mar não parou para ser visto era mar para tudo que era lado.
Porém, mais importante que apenas a rima, é o ritmo que aquela sequênicia de palavras tem. Se a palavra “olhado” for trocada por uma outra onde a rima persista, por exemplo pela palavra “agitado”, então o ritmo é comprometido:
De cima das pedras alguém parou para ver o mar, mas o mar estava muito agitado era mar para tudo que era lado.
Se os dois últimos versos forem completamente mudados, mesmo que com a estrutura de rimas mantida, perde-se mais ainda.
De cima das pedras alguém parou para ver o mar, mas o maior estava muito agitado molhava tudo que podia.
Isoladamente, molhava tudo que podia
é muito bonita, mas dentro deste contexto, não consegue salvar a poesia. Realmente perde-se todo o encanto.
Acredito que estas reflexões sobre a importância do ritmo nos levam a escrever melhores poesias. O ritmo é o barco que nos conduz à sensação de poesia. A rima não é obrigatória, é apenas uma ferramenta, tal qual a métrica e a forma.