— Em alto mar

Como escrever poemas com rimas com exemplos e dicas de uso

Publicado em 10/05/2021 por

O texto abaixo é um resumo do vídeo.

Como vocês sabem, sou um apreciador do ritmo. Tenho investigado, por conta própria, vários aspectos que dão fluidez e cadência nas palavras. É possível ver isso nos últimos poemas que publiquei no @gustavodutra do Medium ou no @gustavodutra.jpg do Instagram.

Gostaria de compartilhar alguns desses aprendizados — todos empíricos e sem metologia. Antes de chegar nas dicas, quero mostrar quais as formas e tipos de rimas, pois acredito que com esse conhecimento explícito seja possível tomar melhores decisões na hora de escrever os poemas.

Se você pesquisar no Google por “como escrever um poema com rimas”, vai encontrar vários artigos [1] [2] [3] que explicam como rimar, porém nem todos são claros e objetivos. Muitos são superficiais.

A rima é um dos elementos mais marcantes que encontrei agora. Ajuda tanto na memorização quanto na oralidade. Junto dela, citaria alguns outros elementos que marcam o ritmo num poema:

Por que escrever poemas com rimas?

Os poemas rimados ajudam na memorização e na fluência da oralidade. Isso remonta aos tempos antigos, onde os poemas não eram escritos. Assim, era fácil tanto para o poeta declamar quanto para os ouvintes reproduzirem.

Ainda hoje a rima é bem utilizada. A literatura de cordel e outras formas populares são fundadas na rima e na métrica, bem como a poesia satírica e humorada. Juca Chaves, Millôr Fernandes e Gregório de Matos são exemplos desse emprego bem humorado.

Rimas consoantes e rimas toantes

A consoante é a rima mais básica, aquela que aprendemos na escola. Toda as letras à partir da vogal tônica precisam ser idênticas. Abaixo há um exemplo do poema Soneto da Fidelidade de Vinícius de Moraes :

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
— Trecho de Soneto de Fidelidade

As rimas toantes são feitas à partir de palavras que possuem as mesmas vogais à partir da tônica. As consoantes, entretanto, podem ser diferentes. No exemplo abaixo, selecionei um trecho de Morte e Vida Severina do João Cabral de Melo Neto .

Só que devo ter chegado
adiantado de uns dias;
o enterro espera na porta:
o morto ainda está com vida.
A solução é apressar
a morte a que se decida
e pedir a este rio,
que vem também lá de cima
que me faça aquele enterro
que o coveiro descrevia:
— Trecho de Morte e Vida Severina

No trecho acima, “dias” rima com “vida”, que rima “decida”, e assim sucessivamente. A vogal tônica é a “i”, seguida de um “a”. Nos casos acima, provavelmente devido à engenhosidade de João Cabral, as palavras foram escolhidas para não “soarem” rimadas.

Mas neste outro exemplo, Paulo Leminski usa a rima tonante de forma com que soem foneticamente muito próximas. Veja como são parecidas “vento” e “dentro”.

  coisas do vento
a rede balança
  sem ninguém dentro
— Paulo Leminski

Rimas internas e rimas externas

Rimas externas são as rimas mais comuns nos poemas; são aquelas que rimam a última palavra de um verso com a última palavra de outro verso. As rimas internas, entretanto, podem ocorrer entre qualquer palavra de qualquer verso.

Um exemplo de rima externa é um poema que escrevi recentemente, onde a palavra “fio” rima com “assovio” e “Morse” com “esforce”. Estes são exemplos de rimas externas.

  telégram-se anuns no fio
  cantarolando em Morse
  por mais que eu me esforce
  não respondem assovio
— Gustavo Dutra

A rima interna acontece “dentro” do poema, como por exemplo este poema de Paulo Leminski, onde “espaço” rima com “capto” de forma toante.

tempo lento,
espaço rápido,
quanto mais penso,
menos capto
— Paulo Leminski

Rimas pobres, ricas, raras e preciosas

Segundo o site Brasil Escola, rimas pobres ocorrem quando as duas palavras rimadas são da mesma classe gramatical, ou seja, rimar substantivo com substantivo, verbo com verbo, e assim por adiante. O uso excessivo pode tornar o poema chato.

As rimas ricas, em contraponto, são rimas com palavras de classes gramaticais diferentes. Apesar do nome, o uso não quer dizer que o poema sairá mais “rico”, pois vale lembrar que algumas rimas são batidas e manjadas, por exemplo “mar” (substantivo) e “amar” (verbo).

As rimas raras ocorrem com palavras que têm poucas possibilidades de aproximação fonética, ou seja, “palavras difíceis de rimar” não importando a classe gramatical. E as rimas preciosas são artificiais e podem apenas “soar rimas” quando faladas, como por exemplo quando se rima uma palavra em português com outra em inglês.

Dicas práticas de como rimar

São 3 dicas que quero compartilhar:

  • Não se apegue às palavras e aos versos, mas à mensagem e ao sentimento
  • Escolha um verso qualquer para iniciar o poema
  • Reescreva e teste diferentes versos e rimas

É comum quando vamos rimar que procuramos uma palavra que rima e então construímos os versos de forma com que ela se encaixe. Porém, nesse cenário, estamos dobrando nosso poema para caber dentro de uma rima, e não fazendo a rima se dobrar ao poema.

Portanto, a minha dica é experimentar inúmeras tentativas, reescrevendo o poema com outros versos a fim de encontrar rimas e ritmos mais naturais. Não faça contorcionismo para por uma palavra só porque rima.

Para ser mais efetivo, eu recomendo não se apegar às palavras ou aos versos. Se apegue ao sentimento e à mensagem que quer passar. Isso permitirá reescrever o poema de diversas formas sem perder a essência, e também a encontrar soluções muito mais rebuscadas.

Ao iniciar um poema, geralmente você terá um verso ou mais em mãos. Isso ajudará a por no papel a primeira versão. Mas se o objetivo for de fazer rimas externa, é possível variar os versos. Como a última palavra irá mudar, então um novo leque de rimas ficará disponível.

Eu gosto de criar inúmeros poemas paralelos, testando variações e inversões dos versos originais. A melhor versão ganha.

Em resumo, era isso que eu gostaria de falar.

Um abraço e até o próximo!