Desafio Livrada 2022 - Sugestões de leitura
Publicado em 15/01/2022 por Gustavo Dutra
Há umas três semanas, terminei a leitura d’As aventuras do bom soldado Svejk, que li para o Desafio Livrada de 2016. Para falar a verdade, nem lembro mais quais eram as outras categorias, mas dado os 6 anos que se passaram, tenho certeza que conseguiria encaixar algum livro lido nelas. Portanto, desafio concluído.
Este ano, como é de costume, o Yuri, que mantém o projeto junto do Murilo, publicou a lista de categorias para o desafio de 2022. São 15 categorias onde nós, leitores, escolhemos um livro que se adeque em cada uma e os lemos.
A ideia é concluir o desafio ao longo do ano. Porém, sou muito facinho, e acontece que outros livros me olham pedindo compaixão e atenção. Meu coração mole cede, e nunca conclui um Desafio Livrada na vida.
Este ano, é claro, não será diferente. Por isso, este artigo é para trazer sugestões de leituras para quem vai seguir o desafio, e também para quem, como eu, também não vai. Julguei uma ótima desculpa para compartilhar um pouco do que li ou quero ler. Vamos às categorias.
Um vencedor do Princesa das Astúrias
Não conhecia este prêmio, portanto não tinha ideia do que ler. Com uma pesquisa rápida, encontrei uma forma de listar todos os vencedores da categoria Letras. Acesse a página de Premiados, do site oficial da Fundação Princesa das Astúrias. Depois, à direita, terá uma opção para filtrar os resultados por categoria. Selecione Letras.
Os vencedores incluem nomes conhecidos, como Anne Carson, Leonardo Cohen, Amos Oz e Margaret Atwood. Não deve ser difícil escolher alguma obra. Tenho curiosidade em ler Margaret Atwood — ainda não li nada dela — ou poemas de Leonard Cohen.
Um livro que você odiou ler na escola
Essa categoria me pregou uma peça. Não lembro de ter odiado um livro. Meu professor de Literatura sempre deu várias opções e pude escolher sempre algum que me agradace. Não tenho do que reclamar.
Agora, há um livro que eu odiei ler. A professora de Filosofia sorteou livros para alguns grupos, e cada grupo precisava ler e entregar um trabalho escrito depois. Estávamos no Primeiro ou Segundo ano do Ensino Médio.
A seleção de livro era muito fora do que estávamos acostumados, o prazo era curtíssimo e tínhamos apenas 1 único exemplar. Meu grupo pegou o livro Videiras de cristal. Lembro até hoje o nome e da capa.
A leitura era massante e chata. E ninguém do grupo queria ler. Conversamos com a professora que sugeriu que cada indivíduo lesse 1 capítulo e depois, todos juntos, poderíam discutir. Prazo curto, leitura sem contexto e 500 páginas para vencer em um curto prazo — tipo umas 3 semanas.
Conversei com meu grupo e acordamos boicotar o trabalho. Não lemos o livro e nem entregamos o trabalho. Decidimos recuperar a nota mais pra frente. Pois agora é que entra no plot twist.
Passados mais de 15 anos, o Desafio Livrada me faz lembrar desse ato de rebeldia e pesquisar o livro. No primeiro resultado da busca descubro que o autor é Luiz Antonio de Assis Brasil. Sim, o gaúcho conhecido como um dos melhores professores de Escrita Criativa do Brasil, professor da PUC-RS, autor do Escrever ficção: um manual de criação literária — que quero muito lero — e também colunista do Jornal Rascunho, cuja coluna acompanhei por quase 1 ano — cancelei a assinatura depois de 3 meses sem receber uma edição.
Em outras palavras, estava aprendendo a escrever ficção com o autor que me fez perder 3 pontos da nota de Filosofia. Reli a sinopse do livro e ainda acho que será chato de ler. Talvez eu devesse me reconciliar através de outro livro. Não sei. Talvez eu não esteja maduro o suficiente para essa categoria. Há coisas que não se superam, nem em 15 anos.
Um romance argentino
Uma pena essa categoria ser um romance. Estou cheio de poetas argentinos para ler. Recentemente comprei Discoteca Selvagem da Cecilia Pavón, e devo lê-lo ainda esse ano. Conheci Cecilia durante uma oficina de poesia com a Angelica Freitas.
Romances, entretanto, encontrei alguns procurando nas newsletters que assino:
- A Livraria Dois Pontos me recomendou Janeiro de Sara Gallardo
- O autor Eric Novello falou do livro Nossa Parte de Noite, de Mariana Enríques. Diz ele que o gênero é horror queer. Fiquei curioso para entender, e, mesmo não gostando de horror, talvez leia para melhor entendê-lo. Achei a proposta interessante.
- Porém, minha escolha provavelmente será O parque das irmãs magníficas, de Camila Sosa Villada. Já li várias resenhas falando bem do livro.
Um livro modernista brasileiro
Para essa categoria precisei dar uma pesquisada. Achei esse site com algumas obras do período e selecionei algumas que recomendo, pois já li:
Porém, o livro que devo ler é o Romanceiro da Inconfidência, de Cecilia Meireles. Estudamos um pouco sobre sua forma na oficina de poesia NA RIMA, com Antônio Nóbrega, pelo Instituto Brincante.
Um romance de 30
Sei que é um pouco preguiçoso da minha parte, mas faz muito tempo que quero ler O Quinze, de Rachel de Queiroz, então nem cheguei a pesquisar outro título.
Um livro sobre drogas
Eu havia selecionado dois títulos para essa categoria. Duas ficções. Comecei a escrever este post antes do Yuri lançar o vídeo no canal e, assistindo a explicação da categoria, entendi que ele estava pensando em não-ficção. Não tem problema.
Lerei Os supridores, de José Falero, indicação do amigo Raphael Albino, e O clube dos jardineiros da fumaça, da Carol Bensimon, do mesmo jeito. Mas fica a indicação de Sugar Blues: o gosto amargo do açúcar. Se não me engano, coloquei na lista após a entrevista da Rita Lee com o Bial.
Para quem lê em inglês, também acho interessante indicar DMT: The Spirit Molecule. O DMT é uma droga derivada das plantas usadas no chá de ayuhasca, e dizem que está relacionada com a sensação de quase morte. Interessante, não?
Um livro trocado com outra pessoa
Ano passado, durante a pandemia, eu e uma colega de trabalho ficamos de trocar livros via correios. Tipo empréstimo. Mandei para ela Desonra, do sul-africano J. M. Coetzee. E ela ficou de me enviar Suíte tóquio, da Giovana Madalosso. Ela acabou saindo da empresa e, como sou péssimo para conversar via Internet, acabamos perdendo contato. Para essa categoria, acredito que valha.
Um livro ilustrado sem palavras
Encontrei 3 livros sem — ou quase sem — palavras na minha estante:
- Janelas de SP, que colaborei com o crowdfunding;
- O tempo sem tempo, que comprei numa feira no Museu da Imagem e do Som (MIS);
- E São Paulo infinita, presente de uma família de amigos quando me mudei de São Paulo.
- Para sempre, nunca mais do Susano Correia, que também contribui com o crowdfunding.
Todas elas são boas indicações. Vou revisitá-los como livros da categoria.
Uma ficção científica nacional
Não poderia deixar de fazer um jabá nessa categoria. Leiam Libre, um conto de uma distopia escrito por Alex Fernandes, e editados por um coletivo que se formou depois de um curso de processo editorial do qual faço parte. Explico melhor nesse artigo.
O menor livro que você encontrar
Não é o menor em número de páginas, mas definitivamente o menor em tamanho. RÉS|CHÃO, da Editora Casa Três. São 90 haicais de vários autores. Uma delícia de ler e uma fofura de manusear.
Um livro de biologia
Essa categoria foi a que mais me animou. Antes de começar o artigo, já havia pensado em diversos títulos. Minha primeira leitura do ano foi A planta do mundo, de Stefano Mancuso. Ano passado já havia lido o Revolução das Plantas, do mesmo autor.
Deixo também a indicação de dois livros que ajudei com o crowdfunding: Matos de Comer, um guia de PANCs brasileiras; e também esses livros sobre fauna e flora do Cerrado.
Ainda tenho curiosidade de ler A metamorfose das plantas, de Goethe, e a A vida secreta das árvores. Apesar de não ter lido, me foram muito bem recomendados.
Um autor indígena
Aqui, recomendo muitíssimo a Queda do Céu. A primeira metade do livro é uma transcrição de discursos de David Kopenawa falando sobre a cosmovisão dos Yanomami. Um livro incrível e imprenscindível para os dias de hoje.
Trouxe alguns achados da minha pesquisa para ajudar na escolha:
- Canal Literatura Indígena Contemporânea
- Perfil @leiamulheresindigenas
- Autora Julie Dorrico, autora de Eu sou macuxi e outras histórias
- Livraria Maracá, especializada em literatura indígena brasileira
Zero, de Ignácio de Loyola Brandão
Leremos. Inclusive, escutei um podcast sobre Não verás pais nenhum, outro livro do autor.
Você tem recomendações?
Ainda estou procurando livros para as categorias:
- Um livro detestado por alguém que você respeita
- Um dramaturgo vivo
Eu costumo respeitar todas as pessoas, ainda que nem todas me respeitem. Portanto, se você tem algum livro que detesta ou é um dramaturgo, indique o livro para mim nos comentários ;)