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Leia minhas opiniões, resenhas de livros, poemas e contos.
3 Haikais eróticos com comidas — Série 'E o haiku?'
a cor do mamão
em formato de mamão
dedos femininos
papo na cozinha
o volume na cueca
baba do quiabo
leite condensado
ávida abocanhada
leite que respinga
3 Haikus sobre Dinâmica Voyeur — Série 'E o haiku?'
de frente ao espelho
assiste ao próprio prazer
como num pornô
tirou a aliança
entregou-se ao estranho
o marido assiste
milhares de anônimos uma câmera ligada
remonta sense8
3 Haikus sobre Preliminares — Série 'E o haiku?'
massagem na próstata
dedos dos pés se contraem
líquido prostático
tatear sem dedo
triscando por entre os seios,
os seios da face
nádegas pra cima
palma da mão vai de encontro
som que reverbera
3 Haikais sobre Flerte — Série 'E o haiku?'
se é ou não é,
questiona a sexualidade —
tesão sobre a dúvida
desliza as mãos
após aperto de mão
olhares lascivos
pés atravessados
mãos se tocam sem querer
assistindo ao filme
3 Haikus sobre Fetiches — Série 'E o haiku?'
com o peito aberto
banha-se na cachoeira
amarela e morna
mão doce que afaga
enforcar devagarinho
boca que escarra
fedor de chulé
lambe a virilha suada -
um pinto no lixo
Desafio Livrada 2022 - Sugestões de leitura
Há umas três semanas, terminei a leitura d’As aventuras do bom soldado Svejk, que li para o Desafio Livrada de 2016. Para falar a verdade, nem lembro mais quais eram as outras categorias, mas dado os 6 anos que se passaram, tenho certeza que conseguiria encaixar algum livro lido nelas. Portanto, desafio concluído.
Este ano, como é de costume, o Yuri, que mantém o projeto junto do Murilo, publicou a lista de categorias para o desafio de 2022.
Resolução para 2022: desistir de ser escritor, mas nunca de publicar livros
Quando falamos em resolução de ano novo, sempre pensamos em começar — uma dieta, um hábito, um projeto —, nunca em desistir. Até pensamos em parar — por exemplo, deixar de fumar ou de correr atrás de amores não correspondidos. Mas, neste 2022, o que eu quero é desistir. Mais especificamente, desistir de ser escritor.
Desistir é muito mais difícil do que parar. Parar está relacionado com uma ação. Se fosse o caso, me bastaria deixar de escrever.
Destaques das minhas leituras de 2021
Ao longo deste ano, li 28 livros, segundo meu Skoob. Salvo um ou outro lançado em 2021, a lista não contém nenhuma novidade. Isso me deixou receoso. Publicar um artigo com “os melhores” seria muita pretensão da minha parte.
Precisei encontrar uma outra forma de compartilhar minhas leituras, e julguei que o termo “destaque” coubesse melhor. Também quis evitar a seleção de um melhor dentre os vários. Afinal, costumo ler de tudo, e isso dificulta uma classificação geral.
Meu primeiro projeto editorial — conheça Libre, de Alex Fernandes
Eu tenho dois livros publicados. Em ambos, participei da produção editorial, tendo inclusive feito a capa da primeira versão de Introversos. Porém, na última semana, foi iniciada a venda do e-book Libre na Amazon. Este foi o primeiro projeto editorial — de um autor que não eu — em que participei integralmente. Neste artigo, gostaria de contar um pouco sobre essa história.
Comprar No final de 2020, fiz um curso chamado A VIDA DO LIVRO, onde o editor da Antofágica e da Aleph, Daniel Lameira, trouxe sua visão sobre o mercado editorial e seu funcionamento.
Anuns não respondem assobio
telégram-se anuns no fio
cantarolando em Morse
e por mais que eu me esforce
não respondem assovio
Cada verso é um decalque
poema é onde se cola;
verso é decalque — se solta —:
lacre que se rompe e não volta,
insígnia que me soma e assola
Perrengues de Autor Independente — Trocando a turbina com o avião voando
Pois é. Poderia ser a frase de abertura de um romance de Virginia Woolf , mas foi apenas uma decisão: eu decidi que eu mesmo publicaria meu livro. Era início de 2016 e eu não tinha a mínima noção de como funcionava o mercado editorial.
Publiquei o Introversos: versos da cabeça de um introvertido na plataforma do KDP, da Amazon. Repetindo-me, fiz eu mesmo a capa, a ilustração, a organização, a edição, a revisão, e tudo mais.
O genocídio começou bem antes e deve continuar
Cada vez mais pessoas têm chamado Bolsonaro de genocida. Dada a sua atitude, é possível deduzir isso. Mas há outros genocídios em curso.
#genocídio
Poema #genocídio, presente no livro “ao antropoceno brevíssimo aceno ou um pot-pourri pro povo rir”
A anedota do martelo — um mito fundador da classe média?
Se você nasceu na classe média, tenho certeza que, em algum momento, ouviu a anedota do martelo. Ou metáfora do martelo, como preferir. Conheça a história e as reflexões que tirei dela com base no livro de Jessé Souza.
Editorial — Uma escolha muito difícil
O segundo do livro do poeta Gustavo Dutra , chamado ao antropoceno brevíssimo aceno ou um pot-pourri pro povo rir , terá dois preços. Pela primeira vez na história de sua carreira não haverá um preço de centro. Em outras palavras, o leitor que tradicionalmente privilegiou a moderação terá que optar por um dos extremos.
Leia um trecho do livro
À esquerda, temos o preço de R$13 reais.
Me senti em casa com Caduceu, de Felipe Turner
Em 2019 fui à minha primeira FLIP. Vaguei meio perdido pelas ruas de Parati à procura de coisas que me chamassem a atenção, sem preocupação com a programação. Conheci, assim, várias pessoas e tive conversas muito interessantes. Numa das casas, com várias estandes de editoras independentes, encontrei o poeta Felipe Turner , que me mostrou seu livro, Caduceu .
Conversamos um pouco. No outro dia, acabei aparecendo em uma mesa que ele participaria.
#defendaolivro - porque não taxar o livro
Já cantava a família Passos lá em Janeiro, fazendo escárnio da fala do presidente sobre livros didáticos que “a coisa está bem esquisita / um montão de amontoado de muita coisa escrita”. Não muito tempo depois, o presidente afirmou que não costuma ler o que assina, pois teria que ler & interpretar umas 20 páginas de decreto.
O ex-Ministro da Educação cometeu inúmeros erros de ortografia nas redes sociais, além de não ter feito nada para melhorar o ensino no País.
Na prática, a teoria é outra: pandemia e luta de classe
Na prática, a teoria é outra. Ouvi muitas vezes essa frase e, em inúmeros casos, pude comprovar sua assertividade. Ao que observo, a teoria muitas vezes tende a ser dogmática, simplificada e nivelada por baixo.
Nos dias de hoje, enquanto estamos presos em nossas casas — ao menos aqueles que podem e querem, pois sim, há muitos que gostariam e não podem, bem como quem pode e não há cristo que o faça querer —, tenho percebido novamente o poder dessa frase em diversas esferas.
O flamular do pano em Lundu, de Tatiana Nascimento (Padê Editorial)
Em Julho de 2018, como ainda é de costume, scrollava pelo feed do YouTube à procura de algo interessante para ocupar o tempo, quando seleciono uma entrevista da filósofa Djamila Ribeiro. No vídeo, ela e Lázaro Ramos discutem o seu mais recente livro à época, O que é lugar de fala?
Num segundo momento, entra em cena Tatiana Nascimento , até então desconhecida para mim. Além de seu livro, Lundu , e da Padê Editorial, sua editora focada em autoras LBTs e negros, fala sobre seus projetos.
Sacrifiquem os Véios, não os Velhos — em favor da taxação de grandes fortunas
A demora na resposta do governo brasileiro à crise gerada pela pandemia do COVID-19 nos custará caro. Com mais sorte do que juízo, outros políticos se opuseram e se posicionaram para defender os brasileiros, ainda que a motivação possa ser mais de cunho político do que humanitário.
Depois da sanção da Renda Básica Emergencial, temos que continuar pressionando o governo por outras medidas. Como a taxação de grandes fortunas já tramita no Senado, decidi escrever sobre ela, que pode gerar recursos importantes lá na frente.
Fui finalista do Prêmio Off Flip 2020, categoria Livro Infantojuvenil
Como nossa cultura não possui nenhum ritual formal de passagem, não delimitamos bem em que fase da vida estamos. Sei que sou adulto, mas ainda me sinto uma criança em vários aspectos. Talvez por isso nunca havia me passado pela cabeça escrever um livro para elas, não me sentia maduro o suficiente.
Acontece que, há uns 7 anos atrás, comecei a trabalhar em uma empresa onde fiz muitas amizades. Entre elas, a que mais se espraiou foi a com Erich.
Leonardo Bastião, O Poeta Analfabeto - Documentário (2020)
O algoritmo do YouTube, que me recomenda muita coisa desinteressante, vez ou outra acerta. Por exemplo quando, em meados de Setembro de 2019, me sugeriu o vídeo Poetas Analfabetos do Sertão do Pajeú, que mostra um pouco da história e da figura de Leonardo Bastião, um poeta analfabeto que canta seus versos nessa região do interior pernambucano.
Gostei tanto do poeta, que selecionei o vídeo como destaque na edição do Curto Poema daquele mês.
O espaço arquitetônico em 'À cidade', de Mailson Furtado (Jabuti 2018)
O vencedor do Prêmio Jabuti 2018, nas categorias Livro do Ano e Melhor Livro de Poesia foi À cidade , de Mailson Furtado : um poema de fôlego que fala sobre sua cidade natal. Ao longo do poema, o eu lírico canta o desenvolvimento, a mudança de ritmo, seu pertencimento e se afirma numa origem.
Espaço em branco mostra o rasgo
Meu interesse na obra começou com o fato do autor ter a autopublicado, o que contrariou o que acreditava até então, que só obras de editoras já reconhecidas participavam de tais premiações.
O cíclico em Girassóis Maduros de Léo Prudêncio (Editora Moinhos; 2017)
A natureza é, por excelência, cíclica. Que isto seja uma novidade eu duvido, mas há uma diferença crucial entre saber dessa informação e experienciá-la. Experienciar o cíclico não é estar preso nele. A esta prisão damos o nome de depressão. Tão pouco significa aguardar, com o coração nervoso, uma volta completa. Esta espera se chama ansiedade.
Na minha opinião, a única forma sadia de experienciar o cíclico é através de uma espiral, onde o ciclo, por mais que pareça se repetir, é visto com outros olhos, de outro ângulo, de uma outra forma.
Privilégios
a flecha afronta o ar
peita destemida a pressão
rasga em rota a resistência
corta o corpo celestial
ao agudo da ponta, todo mérito
ao resto, torpor e descrédito
avante voa cética
à influência da força cinética
Shamata
Ao leste, a textura púmblea e tóxica das nuvens carregadas que pairam no além-mar não refletem a monotonia petrólea do movimento do oceano e distorcem a realidade plana e clara do peito aberto do céu esgueirado
A oeste, o amarelo árido da areia desértica das praias inóspitas marcam a pressão das pegadas de uma jornada caóticas e inesgotável sem destino
Ao centro, o farol violáceo da consciência ergue-se vertiginosamente em meio ao mar sob a lâmpada áurea da consciência da consciência
Coração em ruínas
percebo-me encolhido no centro geodésico da abóboda côncava de um salão lucilante de ilusões, erguida diante das galerias de opulência óbvia dos átrios atávicos à escuridão do meu peito
resisto, mas assisto incrédulo com paciência frágil ao espetáculo mágico do trincar gradativo das colunas de mármore do que senti, cujas rachaduras evidentes, ora mesclam-se à inerência da rocha
aceito ao esvanecer suave das escrituras proféticas de sonhos frustados pintadas à mão nas paredes sólidas através de processos análogos e cientificamente inexplicáveis das chuvas ácidas de choros doces de decepção e de raios solares sórdidos de esperança
Lições de criação poética com Adélia Prado
Recentemente, reassisti à entrevista da Adélia Prado ao programa Roda Viva , disponível no YouTube. Achei tão interessante e agradável, que não me contive na passividade de receptor. Separei, então, algumas frases que me estimularam a comentá-las.
A sua poesia vem da tristeza? Eu adoro discutir criação poética. Não é a toa que criei o um barco ao mar. A primeira pergunta, abrindo o programa, já toca neste assunto.
Cosmologia da Linguagem
Sinto os bilhões e bilhões de anos do universo na aspereza decrépita e irregular das cascas das árvores e no fulgor branco sobre o verde das primeiras folhas
Vejo a evolução caótica e imprevisível do amanhã nos sons translúcidos oriundos do encontro das águas que correm por entre as montanhas gélidas de sabe-se-lá-onde
Escuto às vibrações do crepitar da fogueira que celebra o amarelo-laranja do contínuo nascer e pôr do sol do ínfimo tempo da vida de cada coisa e do infinito tempo de vida de todas as coisas que morrem e revivem e estão em eterna mutação
Princípio de Realidade
somem de mim os assuntos mergulhados em cloro e cândida, um id de brancura límpida, sem vida, sem bactéria, sem gosto, sem tom, sensato
somem de mim os afrescos pintados à mão livre nas paredes que circunscrevem os domínios hostis do superego da imaginação
somem de mim os resquícios moribundos de uma criança que outrora brincou nos jardins seguros do ego
mudo para ser um ser humano melhor, mudando quem eu sou, como eu ajo, como eu falo, como eu olho, como eu sento e como eu como mudo conforme as corporações conduzem a valsa do crescimento e do faturamento bruto a fim de me adaptar ao trabalho — que é de onde vem o dinheiro que me sustenta mudo, me mutilo e me deformo, me faço caber dentro das expectativas inevitáveis do homem empregador
O pedinte
— Não sou bicho. Eu sou uma pessoa direita, séria. Aquela senhora, por quem passei na frente do Pet Shop, me disse que valho menos que o cãozinho dela. Isso não é verdade. Disse que sou bicho. Isso também não é verdade, de forma alguma. Sou um ser humano, por favor, tente entender, não sou bicho. Quando a parei na rua para explicar-lhe tudo, me olhava atravessado, como se eu fosse culpado antes mesmo de cometer um crime.
Correlacionar e atribuir significado — Reflexões sobre o humano
O ser humano tem duas características que o ajudaram a evoluir até onde estamos: a de fazer correlações e a de atribuir significados. No primeiro caso, as correlações permitiram assimilar conhecimentos de forma mais rápida, pois permitiu as metáforas, o que melhorou a comunicação. Já a segunda característica motivou o avanço, seja para construir uma cidade, seja para louvar um deus ou provar uma teoria pelo bem da verdade.
Nosso cérebro está fazendo correlações e procurando significado o tempo todo!
Nigéria é o país que mais influenciou o Brasil — Pelo menos é o que afirma meu cabelereiro
Eu geralmente corto o cabelo com um senhor de seus quase setenta anos em um salão onde todos os cabeleireiros tem mais ou menos essa idade. É sempre muito bom conversar com ele. É uma pessoa mais experiente na vida, que fala sobre onde comer bem e barato, sobre as netas e como era São Pulo há anos atrás.
Quem tem pouco cabelo como eu, que ainda novo já foi atingido por uma calvice precoce e um cabelo ralo no topo da cabeça, então cortar com um profissional experiente é sempre preferível: os erros são irreversíveis, diferente para quem tem cabelo comprido.
Júlio, o apegado ao ônibus
Júlio está sentado na mesa do computador, olhando seus emails. Ele costuma fazer isso vez ou outra, porque sempre há alguma coisa interessante para se comprar ou algum convite para festa que recebe por lá.
Ah! Vocês precisam conhecer este garoto. Ele é uma dessas pessoas que só de olhar na rua faz você querer ser amigo dele. Da mesma forma como o cheiro de um perfume pode fazer você se interessar por uma pessoa, o jeito de agir e se vestir de Júlio fazem você querer ser seu amigo.
Júlia, a futura cineasta
Já estava no seu segundo ano, quando andava de ônibus aquele dia. O tempo passara muito rápido, só mais alguns poucos anos e estaria formada. Sempre simpatizou com a idéia de ganhar muito dinheiro só para esfregar na cara de todo mundo que foi — e muitos ainda são- contra, mas não valeria a pena, não. Aquela profissão era um sonho pessoal, não era uma vingança.
Julia era uma garota adorável!
Geovani, o azarado otimista
Geovani está indo para a lotérica, arriscar a sorte mais uma vez. Ele joga desde os dezoito anos de idade, rigorosamente, todo mês na mega-sena. Chegou a ganhar uma vez, mas seu bilhete fora sido lavado no bolso da bermuda. O pior, a bermuda nem precisava ser lavada, colocou sem querer no cesto de roupa suja, por descuido mesmo.
Depois de perceber o problema, realmente teve que concordar consigo mesmo, era novo demais para ter tanto dinheiro, provavelmente iria se perder na vida.
Alfreado na livraria
Chovia lá fora e Alfredo acabou preso dentro da galeria. Chovia aquela chuva grossa, de pingos pesados, do jeito que dá gosto de apreciar. Para passar o tempo, pois, hoje, ele foi à livraria. Não que fosse um costume, mas era algo que queria fazer com mais frequência.
Nunca conseguiu tirar da cabeça que era mal compreendido ao dizer que gostava de livrarias. Todos sempre pensavam que era para parecer mais intelectual e conhecedor, mas não pelo fato dele gostar de livros.
Alceu, o filho do que ri sozinho
Aquele ali descendo a rua se chama Alceu. Sua mãe havia morrido logo após o parto, o que fez com que fosse para a cucuia o que restava do bom senso do pai.
Mas Alceu sempre fora lúcido e muito racional; não deixava que as loucuras do pai o afetasse no seu dia a dia. Cresceu e se desenvolveu até mais que os amigos do colégio, cujos pais tinham dó por Alceu “não ter uma família de verdade.